Invisibilidade Social .
Isso sim É UMA VERGONHA!

Para quem ainda não viu dias atrás (último dia de 2009) o jornalista Boris Casoy foi pego de calça curta em pleno ar. Foi vítima do muitas vezes fatal “OFF”, que até Ministro de Estado já derrubou, o Parabólica Gate , o tal ministro Rubens jamais se Ricuperou da queda.

Como geralmente em “OFF” os mídiaticos se sentem como se tivessem de robe e calçando confortavelmente suas pantufas de bichinho no sofá da sala ,o pior e o que há de mais reacionário muitas vezes vem à tona .

Enfim, em OFF a mascara cai e como cai e Adeus Hipocrisiaaaaaa!

O Âncora do Telejornal fez pleno jus ao cargo e afundou seu barquinho OFFSHORE Bandeirante num mar obscuro de arrogância e preconceito num comentário pra lá de prepotente sobre um grupo de pessoas cuja função social e uniforme laranja que vestem costuma se dar o nome de Garis.
Merda feita, ventilador ligado , youtube carregando, Orkut bombando, blogs comentando e Boris cai na boca do povo de uma forma não muito desejável.

"Que merda: dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... dois lixeiros... o mais baixo da escala do trabalho..." Boris Casoy em Off dia 31\12\2009.

“ ... A opressão infestou o sentimento , a imaginação e a lembrança dos pobres por mensagens senhorais ou patronais, mensagens de comando e desprezo . São golpes ainda agora desferidos , sob novas formas e menos evidentes ” . José Moura Gonçalves Filho. (Prefácio do livro Homens Invisíveis: Relatos de uma humilhação social).

Como os garis são uma categoria social e política invisível e como vivemos a Era dos Zumbis bastou um pálido pedido de desculpas que foi feito em nome da direção da emissora e ficou por isso mesmo, pois para Boris tratou-se apenas de uma declaração infeliz . Que vergonha !!!!!!!!!!!!

É curioso ver o espanto das pessoas em geral com o desdobramento do caso, mas se observarmos bem de perto a ofensa podemos afirmar sem medo de exageros que ela foi bem condizente com o local e biografia do envolvido. O estigma do objeto do comentário também esta de acordo com o senso comum, pois Gari é caracterizado social e politicamente como Lumpemproletariado que em alemão ao pé da letra siginifca homem trapo .
Pois bem se são Lumpens estão abaixo do proletariado comum. Tornam-se uma categoria desprezada historicamente até por boa parte da esquerda, seja ela marxista ou reformista.

E o que te lembra a singela palavra Bandeirantes? Dispensa maiores apresentações não é verdade? E Boris? Ah ... Ele durante a Ditadura Militar foi “apenas” integrante do CCC, Comando de Caça aos Comunistas , assessor de ministro do Médici , enfim de hierarquia e de valores de Direita ele entende como poucos.

Mudando um pouco o foco, o Sinhozinho Boris com certeza deve ter passado longe do livro que me inspirou a escrever essas linhas : Homens Invisíveis : Relatos de uma humilhação social de Fernando Braga da Costa . Editora Globo ( Pasmem).

Segundo Fernando a "Invisibilidade pública" transforma as pessoas em objetos. A percepção humana fica condicionada à divisão social do trabalho enxergando-se somente as funções e não as pessoas.
Durante 8 anos, Fernando trabalhou como gari, no mínimo meio período, de um a três dias por semana no Campus da Cidade Universitária da Capital Paulista.

Seu trabalho de Psicologia Social é raro hoje em dia pois é de forte apelo social e humano ultrapassando o interesse acadêmico e o que muitos chamam pejorativamente de masturbação intelectual quando o obejeto de estudo possui caráter meramente utilitarista e não visa mais que preencher o próprio ego e perpetuar a busca por status e privilégios se igualando aos sistemas hierárquicos comuns a toda sociedade.

“Os oprimidos para contarem com a solidariedade dos outros dependem de que estes não passem seus dias a enganar-se sobre sua liberdade."
José Moura Gonçalves Filho ( Prefácio do livro Homens Invisíveis : Relatos de uma humilhação social )
“ A liberdade do outro estende a minha ao infinito” Bakunin

Fernando aos poucos se despiu de sua condição de intelectual conforme foi se envolvendo com os trabalhadores nesse período e pôde sentir na pele a sua forma a invisivibilidade o qual ele classifica como sendo um estupro da alma .

“ Ninguém nos vê entretanto , nos sentimos dissecados e ressecados pelos outros” .

Mesmo seus colegas de mestrado , professores de departamento não o reconheciam .

Fernando nos mostra através de seus colegas de labuta que não é privilégio de vergonhosos jornalistas o desprezo pelos oprimidos .

Estudantes da maior Universidade Pública da América do Sul parecem largar na frente de acordo com esse relato do Ismael amigo de Fernando e considerado com justiça por ele um dos co- autores de seu livro.
“ Sabe Fernando eu não gosto desses estudantes aqui da USP . Se puder eles joga o carro em cima de você. Não respeita não . Você é diferente . Você eu gosto ...”
Seja gari , garçon, porteiro , babá , lixeiro os homens e mulheres invisíveis são fruto dessa sociedade de zumbis quase que mumificados, petrificados pela divisão social do trabalho , mimados por terem sempre alguem a carregar o fardo dos trabalhos mais indesejáveis e que são ignnorados até justamente por isso.

É preciso lutar contra a inércia que essa ordem social das coisas impõe.

O Taoísmo nos ensina a ver além de categorias . O que somos ultrapassa aquilo que fazemos . Não é a toa que aposentados sem seus empregos sucumbem ao desespero pois estão quase todos super indentificados com suas carreiras , profissões , cargos e possíveis privilégios pré-aposentadoria .

Enquanto isso na Borba Gato Television o programa de humor jornalístico supostamente independente e político CQC cala-se diante do caso Boris .
Como bons Bandeirantes aprenderam bem a cartilha ,quem pode mais chora menos, e podem apostar :
O Boris continua a solta, mas os rapazes do terno preto e óculos escuros vão fazer vista grossa Cu$te o que Cu$tar .

“ É preciso passar o país a limpo” Bóris Casoy

“Demorou então manoooooo ...”
Tico e Teco

Para os que se interessam pelo tema sugerimos alguns filmes que abordam de forma direta e indireta o que foi aqui relatado :

- Pão e Rosas de Ken Loach - Sobre conflitos sindicais , étnicos e existenciais de um grupo de faxineiros mexicanos imigrantes ilegais em Los Angeles .

- Quanto vale ou é por quilo ¿ Título sugestivo filme nacional uma excelente abordagem do universo da Miséria S\A e tem um recorte muito interessante da opressão desde o Brasil Colônia até os tempos atuais.

Curta metragem

- O dia em que Dorival encarou a guarda .

- BMW Vermelha – Curta metragem disponível no site porta curtas.

Livros

- Homens Invisíveis : Relatos de uma humilhação social – Fernando Braga da Costa – Editora Globo

Há uma dissertação conhecida até mas que não me lembro autor e nome que relata a partir de estudos arquitetônicos a evolução da senzala até ao quarto de empregada e as implicações sociais de tais mudanças através da história brasileira.


Verão de 2010
Tico e Teco